Meu filho é tímido?
- tidanielaguiar
- 26 de jun. de 2016
- 4 min de leitura

A timidez é um traço de personalidade que pode se manifestar desde os primeiros anos de vida, onde a pessoa não consegue conviver com situações sociais tendo que interagir com um grupo de pessoas ou mesmo com um único sujeito. Pode vir acompanhada de diferentes reações do corpo humano, como aceleração do batimento cardíaco, rubor na face, a fala falha, sudorese excessiva nas axilas ou nas mãos e não conseguir olhar nos olhos dos outros. Por volta de dois anos de idade a criança começa a se perceber como um ser independente e passa a ter noção de seus erros e de seus acertos. Começam aí as autocensuras e o temor de não atender às expectativas dos outros.
A timidez é uma manifestação normal, e tende a se atenuar à medida que a criança cresce. Caso ela comece a se isolar demais, como não querer participar de festas, passeios ou brincadeiras, fique atento! Nessas horas os pais podem intervir e investir em situações em que a criança vá gradativamente aprendendo e ganhando confiança.
O comportamento das mães pode ser um antídoto contra a timidez. É o que conclui uma pesquisa da Universidade de Maryland (EUA). De acordo com especialistas, a mãe tem um papel essencial na timidez dos filhos, tanto de forma positiva como negativa. Em entrevista a CRESCER, a psicóloga Isabel Gomes, da Universidade de São Paulo, explica o papel materno na personalidade da criança e dá dicas de como as mães (e os pais, também) podem ajudar os filhos. CRESCER - Quais são os principais fatores que influenciam na timidez de uma criança? Isabel Gomes - O ambiente familiar é um dos principais fatores porque a criança é muito dependente dele e, conforme ele é composto, pode acentuar uma tendência inata à inibição. Tem também a carga genética que cada um de nós traz, responsável por gerar características de personalidade: alguns são mais tímidos e, outros, mais extrovertidos. CRESCER - Um estudo da Universidade de Maryland afirma que a mãe pode ajudar seu filho a perder a timidez. Na sua opinião, quais as possibilidades de isso acontecer? Isabel Gomes - Acho que isso pode acontecer, sim. Por exemplo, se você tiver uma criança mais quietinha e tímida que é criada em uma família com pais que desenvolvem o contato social, ela melhora. Em situação oposta, a criança pode ficar mais tímida ainda. A mãe tem que passar confiança à criança, incentivá-la a participar de outros ambientes. Sem dúvida, essas são formas de a mãe estimular o filho a perder a timidez. CRESCER - Filhos de pais superprotetores tendem a ser mais tímidos? Isabel Gomes - Filhos de pais superprotetores são crianças mais retraídas, sim. São aquelas mães que não deixam seus filhos ficar com mais ninguém e não estimulam o contato social. CRESCER - Tem como a mãe não se sentir mais culpada ainda pela timidez de seu filho? Isabel Gomes - Claro que sim. Não adianta dizermos que a mãe é causadora de todos os problemas porque geramos culpa. O que deve ser ressaltado é que a mãe pode estimular muitas coisas na criança: não só a capacidade de socialização, mas a confiança e a segurança. É importante mostrar como os pais podem contribuir e estimular a melhora de seus filhos. CRESCER - E como pode ser esse estímulo da mãe? Como buscar uma ajuda profissional quando a mãe perceber que a situação foge de suas possibilidades? Isabel Gomes - As dicas que dou em relação ao estímulo das mães é: desde que seu filho é pequeno, coloque-o em contato com outras crianças para estimular todas as formas de contato social, deixe a criança passear na casa de familiares e amiguinhos, leve-a para fazer programas como cinema, teatro. Mas não adianta apenas informar essas coisas. Têm muitas mães que estabelecem uma relação grudada com seus filhos porque são inseguras e não conseguem dividir a criança com o mundo, muitas vezes nem com o pai. Elas precisam também de uma ajuda especializada para entender esses fatores e soltar o filho. Precisam estar prontas para gerar autonomia na criança. O pai também é muito importante por ser o primeiro elo da cadeia que separa a criança da mãe. CRESCER - E como ele pode atuar nisso? Isabel Gomes - Acho que ele tem de se fazer presente e dividir os cuidados com a mãe. Algumas mães são ambíguas, reclamam e querem a ajuda do marido, mas quando ele vai atuar, elas dizem que ele faz errado. Tem que saber entender os homens também e deixá-los ganhar esse espaço. CRESCER - Como perceber o limite entre o excesso ou a falta de timidez? Isabel Gomes - No geral, as pessoas sabem reconhecer uma criança que é extrovertida, sociável, mas que sabe respeitar os limites do outro. Quando as crianças têm um desenvolvimento emocional normal, elas gostam de ser o centro das atenções, gostam de contato interpessoal, mas ao mesmo tempo ficam tímidas em uma situação nova. Isso é normal. Chama a atenção aquela que fica em um cantinho e não interage com ninguém, como também aquela que não pára um segundo. São dois extremos facilmente perceptíveis.
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