Cólicas: o que é mito, o que é verdade?
- tidanielaguiar
- 2 de mar. de 2016
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Ver o bebê com o rosto vermelho de tanto chorar, as pernas encolhidas e os dedinhos crispados - sinais típicos de que a razão da dor são as cólicas - é um espetáculo que nenhum pai quer presenciar. O grande alento é que as cólicas desaparecem no terceiro mês de vida, quase tão misteriosamente quanto chegaram, e não deixam nenhuma sequela. Também é verdade que pais que lidam com a situação com tranquilidade têm o dom de acalmar o bebê. Portanto, arme-se com as informações que colhemos com quatro consultores e aprenda a distinguir o que é mito e o que é verdade. 1. Por que o recém-nascido tem cólica? Ainda há muitos pontos obscuros sobre esse assunto. Não existe, por exemplo, uma causa exata. As cólicas são atribuídas à associação de alguns fatores, entre eles a imaturidade dos sistemas gastrintestinal e nervoso central, que, entre outras funções, controla as contrações do intestino. Como o processo de formação e funcionamento desses mecanismos ainda não está completo ocorrem movimentos intestinais descoordenados que acabam provocando as dores. Passados três meses, esses sistemas adquirem maturidade e as cólicas deixam de fazer parte da rotina da família.
2. Por que algumas crianças têm cólicas e outras estão livres delas? Cada indivíduo é único no que diz respeito a fatores genéticos e biológicos, o que explica parte da questão. A outra parte diz respeito ao ambiente. Embora não haja dados científicos sobre o assunto, os pediatras concordam que a atitude dos pais conta pontos. A criança percebe tudo a sua volta, inclusive a tensão e a ansiedade dos pais. A reação a esses estímulos externos pode ser a cólica. Tanto isso é verdade que, para o pediatra Ruy Pupo Filho, autor do Manual do Bebê (editora Campus Elsevier), a cólica é quase sempre uma característica do primeiro filho - o segundo costuma ter bem menos e o terceiro quase não tem. Excesso de agitação, como som e TV alta ou brincadeiras prolongadas, também pode desencadear ou turbinar as cólicas. Respeito ao ritmo e ao sono do bebê é fundamental.
3. Como saber se o choro é mesmo devido à crise de cólica? Primeiro, por eliminação: o bebê está com fome? A fralda está molhada? Está com calor? Com frio? Se essas possibilidades foram descartadas e o choro continua, é grande a probabilidade de ser cólica. Além disso, há algumas características específicas: o bebê se contorce, o rosto fica vermelho e com expressão de dor, as mãos se fecham e o choro estridente parece inconsolável. Em muitos casos, as crises costumam acontecer no mesmo horário - à tardinha ou no início da noite.
4. Se o bebê mama no peito, a alimentação da mãe pode fazer diferença na presença e na intensidade das cólicas? Há pouca relação comprovada entre a cólica e a alimentação da mãe. O único alimento que sabidamente aumenta as cólicas do bebê se ingerido pela mãe é o leite de vaca, mas só se ela tiver alergia à proteína do leite de vaca ou intolerância à lactose. É possível que a mulher tenha esses problemas e não saiba, ou apenas descubra durante a amamentação, quando, em geral, por ordem médica, aumenta o consumo de leite e derivados.
5. Bebê que toma fórmula industrializada tem mais cólica do que o que é alimentado no seio materno? Não há consenso sobre a questão. Para o nutrólogo Mauro Fisberg, a incidência é muito semelhante nos dois casos. "O que pode fazer diferença é que, se a amamentação for bem orientada, o bebê que mama no seio engolirá menos ar do que aquele alimentado por mamadeira e, consequentemente, terá menos cólicas", observa. Já o pediatra Ruy Pupo Filho acrescenta: "O leite materno é mais bem absorvido pelo organismo, além de conter elementos que contribuem para o amadurecimento rápido do intestino das crianças", afirma. "Com isso, a incidência de cólicas é menor em recém-nascidos que mamam no peito."
6. Quais as formas mais eficazes de combate a essa dor? A primeira recomendação (por mais que pareça difícil) é manter a calma. É preciso quebrar o círculo vicioso que se estabelece: a criança tem cólica, os pais ficam nervosos, o bebê sente mais dor, gerando ansiedade crescente nos pais e assim sucessivamente. O que mais funciona é o pediatra conversar bastante com o casal, passando tranquilidade e mostrando que se trata de uma questão puramente fisiológica, não de uma doença. Mas, se mesmo assim a crise vem, que medidas tomar? Fazer massagens circulares na barriguinha e aquecê-la com bolsa térmica ou flexionar e estender as perninhas, fazendo bicicleta, ajuda. O contato pele com pele também tem efeito relaxante e calmante. A mãe ou o pai devem deixar o bebê só de fralda e colocá-lo em contato com o corpo deles. Remédios, apenas com recomendação médica.
7. Chás e funchicória realmente funcionam? Há pediatras que admitem o uso desses recursos, outros que não recomendam, portanto converse com o seu antes de decidir. "Não há comprovação da eficácia, mas em alguns casos parecem trazer alívio", diz Lílian Sadeck. Se a criança mama no peito, o chá, de camomila ou erva-doce, deve ser oferecido na colherzinha e nunca na mamadeira, para não interferir na amamentação. A quantidade também deve ser pequena. "Algo com cerca de 10 mililitros", aconselha a médica. 8. É verdade que enrolar o bebê em um cueiro ajuda a aliviar as cólicas? O método das nossas avós de enrolar o bebê em um cueiro como maneira de acalmá-lo voltou à moda. A técnica pode até ajudar, por fazer com que ele se sinta mais protegido - afinal, simula o ambiente "apertadinho", porém familiar, do útero nos últimos dois meses da gravidez. Mas o colo da mãe pode ter o mesmo efeito de aconchego e segurança, sem restringir tanto os movimentos do pequeno.
9. Bebê que não arrota depois de mamar terá mais cólica em seguida? Se o bebê engolir ar durante a mamada e não arrotar, pode haver formação de gases e, consequentemente, cólicas. Mas não significa que ele deva arrotar sempre que mama - não é regra que em toda mamada ele engula ar, principalmente se a pega do seio for correta, com a boca do bebê cobrindo a maior parte da aréola e o lábio inferior virado para baixo, formando um beicinho. Se a criança se alimenta com mamadeira, mantenha o bico sempre cheio de leite.
10. Durante a crise de cólica, algumas mães tentam amamentar para acalmar o bebê. É correto dar de mamar nessa hora? Sugar tem efeito calmante e pode ajudar, sim. Mas, se ele mamou faz pouco tempo costuma não ser uma alternativa adequada. "Nessa situação, o seio não terá mais tanto leite e há risco de a criança engolir ar, formando gases. Consegue-se, assim, o efeito contrário: aumentar bastante a cólica", explica Lílian Sadeck.
12. Colocar o bebê para arrotar pode evitar cólicas? Evita outro desconforto para o bebê, semelhante à cólica, que é a retenção daquele ar deglutido na amamentação. Mas a cólica tem origem na ação intestinal.
13. A alimentação da mãe tem influência? Segundo os especialistas, não há estudos científicos que comprovem esse efeito. Como acontece com qualquer pessoa e em qualquer fase da vida, a alimentação deve ser pautada pelo bom senso. No entanto, fique de olho. Se você comeu muito chocolate, café ou uma comida pesada e seu filho teve mais gases, é melhor evitar. A experiência de observação é importante nesse período.
14. A ansiedade dos pais piora o problema? Com certeza, pois deixa o bebê mais agitado, tenso, desconfortável. Certa ansiedade, no entanto, é inevitável. Um bebê novo em casa provoca muitas mudanças. Os pais estão conhecendo o filho e aflições e dúvidas são naturais. Ter consciência disso e de que o choro do bebê é o único recurso de comunicação dele, e não um problema, já é um primeiro passo para aliviar a ansiedade. Os pais também perceberão que a cólica tem horário certo. Assim, a dica é fazer com que o ambiente esteja o mais tranquilo possível nesse momento. Evitar que muitas pessoas estejam no local e colocar uma música suave pode ajudar a criar um clima mais relaxado. Será bom para os pais e para o bebê.
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